How I Met Your Mother , sitcom americano, produzido pela CBS ficou no ar por nove temporadas. Narra a história de Ted Mosby e seus amigos, vivendo em Nova York e se aventurando pelas conquistas amorosas de seus vinte e poucos anos. Sua temática, à primeira vista, não se difere muito de vários sitcoms da mesma linha. Mas se buscarmos uma visão mais aprofundada, encontraremos na série um tema maior ou tão importante quanto a busca amorosa: o tempo. O tempo acaba por se tornar o tema, a forma da estrutura narrativa e estilística da série.
Uma das tarefas fundamentais ao criarmos uma história é ter a completa certeza de nosso tema, assunto que nossa narrativa irá se escorar do início ao fim. Muitas vezes descobrir o real tema da história requer uma análise da narrativa em um prospecto geral.
No caso de HIMYM o tema tempo é recorrente na série, o “assunto” que vai se desvendando ao passar dos episódios e que ao final da série nos expõe o ethos, a “moral”, o protagonista nos leva a compreender a necessidade de respeitar o tempo para tudo.
Fica clara a utilização do tempo na composição da narrativa, visto que todas as nove temporadas da série são na verdade a expansão temporal da conversa de um pai com seus filhos, que em um tempo real, não passaria de mais de algumas horas ou dias.
A primeira e principal brincadeira sobre o tempo de HIMYM: a dilatação temporal de uma conversa com os filhos que se expande em 9 temporadas. Toda a estrutura narrativa da série se baseia em flashbacks ou flashfowards em relação a conversa, o tempo presente.
Também podemos compreender que a estrutura narrativa da série é baseada no tempo já nos primeiros segundos do piloto, que mostra na cartela “ano de 2030” as primeiras imagens e a narração que já nos remete a um deslocamento temporal, criando uma dos grandes trunfos da série, toda história que acompanhamos e acreditamos ser o tempo atual é, na verdade, um grande flashback. As idas e vindas no tempo não param por aí. Vemos flashbacks dentro do grande flashback através das narrativas inventivas do personagem Barney, ou das memórias dos tempos de faculdade de Marshall e Ted. Muitas vezes somos levados ao futuro, não apenas no tempo do narrador, mas futuro da própria narração, como na cena em que Marshall lê a carta póstuma de Lily, anos após 2030, ou quando Lily imagina a velhice em um pátio cercado por seus amigos.
A série também demonstra toda sua arquitetura temporal quando se utiliza de eventos de uma temporada e explora tais eventos em outra temporada. Como exemplo marcante temos o caso da cabra. Durante a terceira temporada ocorre o episódio onde Ted completa seus trinta anos. Lily salva uma cabra de ser vendida para o açougue, e acaba levando o animal para casa. No final do episódio após o confronto de Ted e a cabra, ele lembra-se que na verdade a cabra não estava lá em seu trigésimo aniversário, mas sim em seu trigésimo primeiro. E assim a cabra é esquecida narrativamente por um ano, e retorna no final da quarta temporada, quando Ted completa seus tinta e um anos e a cabra acaba por ter um papel importante dentro do episódio.
Porém não apenas no grande arco das temporadas que esse artifício de estruturação baseada no tempo é utilizada, dentro do próprio episódio. Um episódio em que o tempo é utilizado como construção narrativa acontece no décimo terceiro episódio da quarta temporada. Marshall e Lily tem uma tradição como casal, sempre que um viaja, esse traz uma caixa de cerveja e o outro vai buscar no aeroporto. Em Nova York está acontecendo a maior tempestade de neve dos últimos anos. Lily está viajando, Marshall e Robin vão buscá-la no aeroporto e Ted e Barney tomam conta do bar que sempre frequentam. O episódio é construído de forma a entender que Marshall não encontra Lily e não consegue cumprir com a tradição. Porém ao final do episódio o tempo se dilata e Ted nos “lembra” que foram três dias de tempestade e que cada acontecimento daqueles ocorreu em um dia diferente e assim tudo se resolveu da melhor forma.
O tempo não é utilizado apenas como uma forma de estrutura narrativa, HIMYM se apropria do tempo como forma estilística e explora suas várias possibilidades. Como por exemplo, o encontro de dois minutos de Ted e Stella onde para conquistar Stella ele acaba por montar um encontro que acontece em apenas dois minutos, em tempo real, em um plano sequência que realmente dura dois minutos. Também o tempo é utilizado como método de estilo, no episódio Bad News em que o pai de Marshall falece. Durante todo o episódio, enquanto Lily e Marshall buscam saber se poderão ter um filho, elementos de arte formam uma contagem regressiva, que vai do 50 até o 01, o momento da má notícia, a morte do pai de Marshall.
No décimo episódio da sétima temporada, não por acaso intitulado Tick Tick Tick, o tempo se torna tema do episódio. Fala sobre a relatividade do tempo e como ele pode ser expandido ou comprimido. Ted e Marshall vão a um concerto de Rock e sob influência de drogas acabam por perder a noção do tempo, acreditando que horas se passaram no simples fato de sair para comprar nachos, quando na verdade foram só dois minutos. Paralelo a isso, Robin e Barney traem seus atuais namorados e decidem ficar juntos, Barney termina o relacionamento com sua namorada, porém Robin não. Para Barney o tempo para, fazendo alusão a duração relativa de ter sido enganado.
How I Met Your Mother se apropria do tempo em tantas frentes que se torna difícil não percebê-lo como o tema intrínseco da série, criando assim uma camada profunda de análise. O tempo decorrido do protagonista do momento que ele decide que é hora de encontrar alguém para casar, até o momento que ele realmente encontra. Quanto tempo ainda tem? O tempo que passa. O tempo que se espera. Quando aquele ano é muito curto, quando aquele segundo se expande e demora a eternidade? O tempo incerto e variável da memória de quem conta uma história.
“Espere por...” bordão do personagem Barney é como o resumo de HIMYM, nove anos que o espectador viu e esperou o tempo se tornar, através da sua estrutura narrativa e da construção estilística, o tema maior da série.