Segunda parte da série sobre furos de roteiro
Terminou seu primeiro tratamento ou seu vigésimo, não importa, sempre estamos passiveis de cometer um erro ou um descuido que pode botar água abaixo todo um trabalho. Dois momentos mais favoráveis a tais erros. O roteiro-de-fim-de-semana, quando em um momento de inspiração escrevemos toda uma história, sem muito planejamento ou atenção e o segundo é quando em meio a um longo processo de reescrita acabamos por focar em detalhes e buscando resolver um problema acabamos por criar outro. Por isso encontrar os Furos de Roteiro nem sempre é tarefa fácil, então vão algumas dicas para facilitar a sua vida.
LER E RELER
Não apenas de reescrever que vive o roteirista, cada processo de reescrita requer um processo ainda mais focado de leitura. Reler o seu texto até “saber de cor” é a melhor de perceber um furo. Porém ler o próprio texto é algo traiçoeiro, muitas vezes não conseguimos identificar problemas só com a leitura. Tempo é essencial, colocar o roteiro na gaveta e só voltar a ler depois de um bom tempo nos permite distanciar de nossa criação e com uma nova perspectiva identificamos mais facilmente nossos erros.
ESTÁ EM NOSSA CABEÇA, NÃO NO PAPEL
Muitas vezes apostamos na capacidade de compreensão do espectador, acreditamos que uma informação está clara, mesmo quando a expomos de forma subjetiva, no subtexto de uma cena. Esse ruído entre o que acreditamos estar escrito e o que é compreendido pode criar furos em nossa história. Precisamos de uma segunda opinião, dê seu roteiro mesmo que inacabado para uma pessoa de confiança e que não conheça nada da história e universo que você está criando. Peça que ela leia e tire suas conclusões, só assim você saberá se a informação que achava estar no texto realmente atinge o receptor.
FAÇA ANÁLISE DE SEU PRÓPRIO ROTEIRO
Um exercício crucial para qualquer roteirista é fazer análise de roteiro, pega um roteiro que você considera de qualidade e “destrinchar”, analisar do arco dramático principal, passando por cada subtrama, personagem por personagem em seu arco, cena a cena, realmente compreender o funcionamento daquela trama. Então por que não fazer isso com seu próprio texto. Tome seu tempo de descanso e distanciamento e analise seu próprio roteiro como se fosse de outra pessoa. É como tirar a prova real de uma operação matemática, fazer o caminho inverso da criação. Com certeza nenhuma trama irá ficar solta ou esquecida.
ALGO ESTÁ ESTRANHO
Você lê e relê e mesmo assim sente que algo está estranho, não se encaixa. Por vezes devemos confiar em uma arma muito poderosa, nossa intuição. Pode parecer subjetivo, mas essa sensação de que algo não está funcionando deve ser levada em conta, pois ela pode refletir diretamente no espectador, mesmo que ele ou você sejam capazes de identificar o que é. Sentir sua história também é importante, a carga emocional atribuída ao texto emana para a tela.
PERSONAGENS FALAM DEMAIS
Você está no último ato de sua história e os personagens começam a falar desesperadamente, grandes monólogos, diálogos intermináveis. Será que não é você tentando explicar ao espectador o que deveria ter sido mostrado em ações? Apesar de não ser um furo essa tentativa desesperada de preencher lacunas no final é um forte indicativo que pontas soltas foram deixadas pelo caminho. Volte e resolva de forma criativa e inteligente.
Uma dica infalível sempre é buscar se distanciar ao máximo de seu texto, leia um livro novo, faça uma maratona de sua série preferida, ou passe dias agradáveis com sua família e amigos, sem pensar nas tramas ou personagens que você acabou de criar. Assim será muito mais fácil identificar quando há um furo em seu roteiro.
No último texto da série, veremos como resolver os furos que foram deixados para trás.