top of page
Buscar
Marcos Flávio Hinke

11 Filmes sobre Roteiristas em Apuros


Apesar de serem os primeiros a sonhar com o filme, raramente roteiristas são reconhecidos por nome (salvo os casos de roteiristas/diretores), principalmente quando associado a um grande nome na direção ou elenco, fato que discutimos no artigo "Quem são seus roteiristas favoritos?".

O roteirista é o contador de histórias incógnito que através de suas palavras começa a esboçar o filme, processo que muitos vezes causa um certo isolamento do mundo externo. Por isso, separamos alguns filmes onde os roteiristas estão nos holofotes, protagonizando a história e compartilhando um pouco das belezas e angústias do ofício, ou simplesmente sobrevivendo.

Assistir a nossos colegas de profissão enfrentando suas crises e suas relações com seus tempos, nos mostra que não estamos tão solitários assim e que nossos conflitos são universais.

A lista é dedicada a filmes em que o roteirista seja o protagonista ou tenha um papel de destaque, mas não exatamente dentro do contexto da produção cinematográfica, portanto mesmo grandes filmes sobre bastidores, focados na figura do produtor ou diretor, não foram consideradas em nossa seleção.

Os filmes não estão separados por méritos de qualidade ou relevância.

Adaptação

Roteiro de Charlie Kaufman

Uma excelente fábula metalinguística repleta de auto referências. Charlie Kaufman se insere em seu próprio roteiro como um roteirista que se insere no próprio roteiro. Kaufman (o verdadeiro) sempre se manifestou contra qualquer tipo de forma ou fórmula na escrita criativa, e o conflito principal em “Adaptação” é o fato de que Charlie Kaufman (o personagem) aceita adaptar um livro sem qualquer linha narrativa e está determinado a não seguir os dogmas de Hollywood. Isso lhe causa um desesperador bloqueio criativo e ele acaba recorrendo para o script doctor Robert Mckee, o guru das formas Hollywoodianas.

A metalinguagem não está presente apenas na inserção de Kaufman como protagonista, mas também na própria narrativa do filme, que segue as regras ditadas pelos gurus dos roteiros, na medida que o protagonista tenta lutar contra elas.

Meia- noite em Paris

Roteiro de Woody Allen

Gil é um frustrado roteirista de comédias bobas Hollywoodianas que sonha em se tornar um sério escritor literário. Nostálgico daquilo que não viveu, vive um amor pela década de 1920 na França. Misteriosamente, toda meia noite se transporta para sua época favorita e convive com alguns de seus maiores ídolos.

Ok, o protagonista é frustrado com a profissão de roteirista, mas não deixa de ser um protagonista roteirista.

Barton Fink – Delirios de Hollywood

Roteiro de Joel Coen e Ethan Coen

Barton Fink é um dramaturgo que é convidado a escrever roteiros para Hollywood após sua peça fazer sucesso de critica e público. Com medo de se distanciar dos “homens comuns”, se hospeda em um hotel de baixo padrão, para se afastar do estilo hollywoodiano de ser e evitar distrações. Porém, constantes distrações o impedem de escrever e Fink entra em crise, fazendo-o questionar se ele realmente é um escritor ou teve sorte em sua peça. As situações surreais (bem ao estilo irmãos Cohen) vividas pelo protagonista são angustiantes representações dos desesperos causados pelo bloqueio criativo.

Crepúsculo dos Deuses

Roteiro de Charles Brackett, Billy Wilder e D.M. Marshman Jr.

Grande clássico do cinema noir ambientado nos anos 50, que mescla drama e humor negro para contar uma fábula sobre decadência, narcisismo, ganância e sonhos destruídos em Hollywood. Nosso “herói” roteirista é Joe Gillis, que passando por problemas financeiros e após ter quase todas as portas fechadas em sua cara, cruza o caminho de Norma Desmond, antiga estrela do cinema mudo caída no ostracismo, cujo delírio de grandeza a fecha em seu próprio mundo de ilusões, Norma atrai Gillis para reescrever seu utópico roteiro que a colocará em frente aos holofotes novamente.

Além de ter um protagonista roteirista (o filme é narrado por Gillis), essa obra-prima merece destaque na lista por sua desmistificação de Hollywood, a fábrica de “sonhos”, e pela ousadia narrativa referente ao ponto de vista do filme.

Trumbo

Roteiro de Christopher Trumbo

Um dos grandes destaques da lista é Trumbo, que retrata o período do Macartismo e a lista negra de Hollywood (The Blacklist), um documentário seminal sobre o roteirista Dalton Trumbo, responsável por Spartacus, Papillon, Johnny vai à Guerra (escreveu o livro e o roteiro), Arenas Sangrentas, entre muitos outros. Focado na figura de Trumbo, o filme expõe a nefasta perseguição aos comunistas e/ou simpatizantes nos EUA após a Segunda Guerra Mundial, conhecida como Macartismo. Trumbo e muitos colegas artistas se recusaram a responder perguntas sobre juramento, foram presos e entraram para a lista negra, impedindo-os de serem contratados em Hollywood.

Para continuar trabalhando, Trumbo assinava seus roteiros com pseudônimos ou através de testas de ferro, só sendo devidamente creditado por muitos dos seus trabalhos após sua morte.

Uma versão ficcionalizada da vida de Dalton Trumbo está prevista para ser lançada em 2016 com Bryan Cranston no papel principal.

Assista abaixo a entrega do Oscar para melhor roteiro em 1957, onde o “roteirista” Robert Rich é premiado com a estatueta, como não podia comparecer na cerimônia (pelo fato de que não existia), o prêmio foi recebido por Walter Mirisch, presidente da Academia de cinema americana na época.

Testa de Ferro Por Acaso

Roteiro de Walter Bernstein

Situado nos anos 50, Testa de Ferro por Acaso faz um recorte do período da lista negra. Quando seu amigo roteirista entra na lista negra e é impedido de trabalhar em Hollywood, Howard Prince, funcionário de um restaurante, o ajuda colocando seu nome como roteirista em um trabalho do amigo e apresentando para uma emissora de TV. Com o sucesso da empreitada, Howard é convidado por outros roteiristas para ser testa-de-ferro.

O filme é um dos poucos projetos que Woody Allen topou atuar sem ter nenhum envolvimento com o roteiro ou direção por se tratar de um assunto que considera pertinente. Além disso, o roteirista e o diretor do filme, junto com três atores do elenco, estavam na lista negra e foram impedidos de trabalhar na época. Testa de Ferro por acaso é um retrato amargo de uma época obscura contado por aqueles que fizeram parte da história.

No silêncio da noite

Roteiro de Andrew Solt

Com a tarefa de roteirizar um best seller horrível, Dixon Steele pede para uma recepcionista, Mildred Atkinson, lhe contar a história em suas próprias palavras. Na mesma noite, Mildred é assassinada e Dixon é o principal suspeito. Para sua sorte, sua vizinha, Laurel Gray, se apresenta como seu álibi. A relação dos dois se fortalece, mas com o tempo, Laurel começa a ter dúvidas da inocência de Dixon.

O Desprezo

Roteiro de Jean Luc Godard e Alberto Moravia

Ao aceitar escrever uma adaptação americana de Odisseia, o roteirista Paul Javal vai para Roma junto com sua esposa Camille. Durante a viagem, Camille acredita estar sendo usada pelo marido para conquistar o produtor Jeremy Prokosch. Uma série de mal entendidos vai fragilizando o relacionamento do casal. Filmado durante o colapso do sistema de estúdios Hollywoodiano, essa belíssima obra de Godard baseada no livro de Alberto Moravia se utiliza do fim de um relacionamento para expor seu amor ao cinema como arte e seu desprezo ao cinema como comércio.

Numb

Roteiro de Harris Goldberg

Hudson Milbank é um roteirista, que junto com seu parceiro de escrita Tom, tem curtido um modesto sucesso em Hollywood. Seus problemas começam quando ele de repente se sente afastado do mundo e não consegue sentir nenhuma emoção. É aconselhado por Tom a procurar ajuda profissional e assim começa uma jornada em consultórios psiquiátricos e experimentos com remédios, mas somente quando Sara surge em sua vida que ele encontra motivações para melhorar. O roteirista Harris Goldberg faz sua estreia na direção com essa simpática comédia romântica.

A musa

roteiro de Albert Brooks e Monica Johnson

Ao ganhar um prêmio de conjunto da obra, o roteirista Steven Phillips (Brooks, também diretor e co roteirista do filme) percebe que está sendo jogado de escanteio. Os produtores o consideram um decadente que perdeu seu frescor, e Phillips tem dificuldades em vender seu novo roteiro. Desesperado, segue o conselho de seu amigo roteirista Jack (Jeff Bridges) e procura os serviços de Sarah (Sharon Stone), uma musa moderna que pode inspirar qualquer um. Mas os custos para a inspiração são maiores do que Phillips imagina.

O Roteirista

roteiro de Lucas Paraizo

Convidado pela produtora Tango Zulu Fimes, o roteirista Lucas Paraizo (A Teia) registrou durante doze dias conversas com 32 roteiristas brasileiros na busca de várias respostas sobre o o oficio de escrever roteiros. O projeto resultou no documentário “O Roteirista” e no livro “Palavra de Roteirista”, que reúne transcritos das entrevistas com pequenas introduções escritas pelo próprio Paraízo.

Grandes nomes como Adriana Falcão (O auto da compadecida/A grande família), Bráulio Mantovani (Cidade de Deus/Tropa de Elite), Doc Comparato (O beijo no asfalto/A justiceira), Jean Claude Bernardet (O caso dos irmãos Naves/A noite do espantalho), Marçal Aquino (O Invasor/O Cheiro do Ralo), Orlando Senna (Iracema – Uma transa amazônica/O Rei da noite), entre muitos outros integram as entrevistas.

Lembra de algum filme em que o roteirista é o astro da história? Compartilhe e contribua com a lista.

0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
tertulia-6_edited.jpg
bottom of page