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Jaqueline M. Souza

Os 7 erros mais comuns que todo roteirista deve evitar


Tive o prazer de estar na equipe de classificação do Prêmio Cabíria a convite da organização - e ler tantos roteiros em pouco tempo me fez refletir sobre alguns erros comuns que vi ao longo destes dias. Conversando com as outras roteiristas da equipe responsável pela escolha dos 16 selecionados para a próxima etapa, observamos que alguns erros, muitos deles básicos, são repetidos a exaustão na maior parte dos roteiros por aí. Então, não custa nada discutirmos alguns deles aqui:

1. ERROS DE FORMATAÇÃO

Sucesso é 1% inspiração, 98% perspiração e 2% de atenção aos detalhes.

Nós já falamos sobre formatação em outros posts, mas por incrível que pareça, esse é o erro mais comum e frequente. Dependendo de quão fora da formatação seu roteiro estiver, ele pode acabar sendo desclassificado na maior parte dos concursos de roteiro pelo mundo. Afinal, um concurso de roteiro não é obrigado a aceitar algo que não seja um...roteiro. E para ser um roteiro, ele precisa estar dentro do padrão de um roteiro. Se o seu roteiro tiver pequenos problemas de formatação e você não chegar a ser desclassificado, você ainda pode comprometer a qualidade de leitura da sua obra. Adicione aqui erros gramaticais e de escrita, que também comprometem o entendimento e a qualidade do seu texto.

COMO EVITAR

Optar por escrever em um software próprio para roteiros irá lhe economizar algum tempo na formatação das margens e recuos. Uma revisão atenta também irá ajudar a evitar erros gramaticais e de digitação.

2. DESCRIÇÕES INFILMÁVEIS

O roteiro é a planta baixa do filme, seu guia, seu mapa. Assim, descrições subjetivas, pensamentos e sentimentos de personagens devem ser deixados de lado. As informações devem ser sempre visuais/sonoras e mais do que isso, capturáveis em imagem ou som. Na teoria todo mundo sabe disso, mas na prática alguns esquecem e fazem descrições de cenas que parecem saídas de um poema do Olavo Bilac.

COMO EVITAR

Na descrição do personagem em cena, insira apenas informações primordiais como idade, etnia/raça, gênero (se não for claro pelo próprio texto), um breve perfil. Mesmo a descrição de roupa, maquiagem e outros acessórios só deve ser feita quando acrescentar algo a história. No caso de ação, faça a descrição do que é visual ou sonoro. Essa é a oportunidade de colocar em prática a filosofia do “mostre, não conte”, se um personagem está insatisfeito em seu emprego, não descreva a insatisfação, coloque o personagem em uma situação que demonstre com ações está insatisfação ou os conflitos pelos quais ele passa no ambiente de trabalho.

3. DESCRIÇÃO DEMAIS OU DESCRIÇÃO DE MENOS

Achar o ponto exato de descrição para cada cena é uma arte e chegar a esta medida perfeita é difícil, mas nada te impede de aprimorar isso com base em um conceito muito simples: descreva apenas o que é importante para a ação e para a história como um todo. Simples. Objetos, acessórios, figurino ou qualquer elemento só devem ser inseridos e descritos se contarem algo sobre o passado da história, se revelarem algo sobre o personagem ou se forem importante para o andamento da trama.

Por outro lado, a escassez de descrição é também um erro comum. Por isso é sempre importante lembrar que até que você escreva, a história está na sua cabeça e só. O leitor não tem como adivinhar o que está acontecendo, ou melhor, o que você gostaria que estivesse acontecendo na sua cena. Então nada de omitir descrições que sejam fundamentais para o entendimento de uma situação. Se você começa uma cena diretamente com um personagem que ainda não foi apresentado em um dialogo, como o leitor saberá quem é o personagem, como ele é, o que está fazendo e com quem ele fala?

COMO EVITAR:

Se você tem dificuldades de escrever com uma quantidade adequada de descrição, escreva no seu método e faça a reedição do texto em um segundo tratamento. Então, volte e leia atentamente. Corte tudo que seja desnecessário e acrescente onde sentir que falta informação para o leitor. Por exemplo, se uma personagem está indo para uma festa de gala, o figurino e a maquiagem já estão implícitos no contexto da cena, sendo desnecessária sua descrição detalhada. Agora, se a personagem está indo para a mesma festa usando pijamas e carregando uma mochila, a descrição do figurino compreende um novo significado.

4. DECUPAGEM OU INCLUSÃO DE PLANOS

O roteiro de cinema aboliu a decupagem do seu formato tradicional lá nos anos 70 (você pode entender um pouco mais do porquê aqui). Se você leu um roteiro na internet que trazia inclusão de planos, provavelmente era um Shooting Script, isso é , um roteiro para produção do filme, em que parte da decupagem pode estar no roteiro para guiar a equipe e os atores. Roteiristas/diretores que já tem nome reconhecido em ambas as áreas, podem escrever seus roteiros já com as inclusões de movimentos de câmera ou enquadramentos, mas eles são exceções e não a regra. Veja por exemplo a diferença entre o roteiro do oitavo filme de Quentin Tarantino, Os 8 Odiados, e seu primeiro roteiro vendido para um estúdio, Amor à Queima Roupa, dirigido por Tony Scott. Até o jovem Tarantino não enchia um roteiro com enquadramentos.

COMO EVITAR

Não inclua decupagem, menções a movimentos de câmera ou enquadramentos. A única exceção é caso um enquadramento/movimento seja realmente importante para a cena, e mesmo assim, você não precisa citar a câmera - como roteirista aprenda a guiar as imagens através das ações e olhares.

5. CLICHÊS

Clichês são difíceis de combater, pois entram em nossa mente de uma forma tão poderosa, que antes que você perceba você irá reproduzi-los. Mas o problema é que se eles podem passar batido pelo escritor, eles não passam pelo leitor. Ao ler uma cena, uma situação ou uma fala clichê, o leitor o identificará como tal e de alguma forma isso perderá a força pra ele. Lembrando que por base, um clichê não é uma mimese no sentido Aristotélico, uma tentativa de imitar ou reproduzir o mundo, mas sim a mimese da mimese, a reprodução da reprodução, e como um xerox de um xerox, ele perde a qualidade dos originais. Imagine quantas pessoas você conheceu que descobriram que estavam sendo traídas ao chegar em casa e ver duas taças de vinho em cima da mesa.... Entretanto, porque está cena é tão comum para este efeito dramático? Justamente pela reprodução da reprodução, porque você viu isso em algum outro lugar e acreditando na eficiência disto, resolveu utilizar também. Ok, como eu disse anteriormente, nem sempre esta escolha pela utilização do clichê é consciente. Outra questão é que ao utilizar clichês você perde a chance de engajar o leitor com a sua história. Por exemplo, um personagem chega em casa, aperta o botão de sua secretária eletrônica, que diz não ter mensagens. Todos entendemos o significado da cena, em geral, um clichê se torna um clichê, justamente por bem representar algo, neste caso, a solidão do personagem, que não tem ninguém que se importe com ele. O problema é que estamos em 2016 e se sua história é atual, a escolha não só é um clichê, como não faz qualquer sentido com o momento atual. Mostra muito mais que o personagem está descompassado do tempo do restante do mundo (afinal quem ainda tem um aparelho de secretária eletrônica?) do que a sua solidão. Então, não só evite clichês, como tenha cuidado para que suas cenas dialoguem com o agora e com o seu público.

COMO EVITAR

Primeiro, descarte sempre a primeira ideia que venha a sua cabeça. Ela é a ideia mais fácil e óbvia acerca da sua história e por isso mesmo, provavelmente seja um clichê. Quando você parte para um processo de reflexão mais maduro e profundo, chegará a conclusões e resoluções que não são meros lugares comuns. Contextualize as situações de forma de criar empatia e engajar o leitor. Não se preocupe em criar cenas e diálogos 100% originais, essa não é questão, apenas tome cuidado para cair em uma reprodução vazia que não terá impacto sobre o leitor.

6. CONTAR E NÃO MOSTRAR

Mesmo na literatura, onde as possibilidades são infinitas comparadas a escrita para cinema, você precisa ter em mente a importância do “mostrar mais do que contar”.

No cinema, o exemplo é ainda mais necessário. Toda a descrição precisa ser concreta , compreender uma ação, mesmo assim é comum encontrar roteiros que dizem “ Esta cena precisa ser engraçada” ou “O público precisa ficar em dúvida se eles falam de Joana ou de um carro”.

Diálogos também não servem para exposição. Na vida real não expomos exatamente o que estamos falando o tempo todo, sendo que grande parte das discussões são causadas por desentendimentos sobre o que estava sendo dito. Isso é a vida, isso é drama. Um personagem que só expõe o que está sentindo ou pensando é meramente expositivo, diminuído sua relação de empatia com o público.

COMO EVITAR

Se a cena precisa ser engraçada, escreva-a de forma engraçada, coloque elementos cômicos que gerem graça já durante a leitura. Assim, como se o leitor precisa ficar confuso sobre o que os personagens conversam, crie diálogos que acentuem uma possível confusão. Evite descrições subjetivas que incluam pensamentos ou sentimentos do personagem. Se um personagem é assombrado pela solidão, demonstre a solidão. Se o personagem se sente desconfortável perto de outra pessoa, demonstre esse desconforto. Show, don't tell!!

7. NÃO SABER PARA ONDE A SUA HISTÓRIA CAMINHA

Se você não sabe para onde sua história está indo, provavelmente você não descobrirá no próprio processo de roteirização. O roteiro é a etapa final do processo de escrita para as telas e antes de chegar lá você deve trabalhar em sua premissa, escrever uma sinopse, um argumento e uma escaleta. A estrutura da história precisa estar clara e resolvida na sua cabeça antes de você começar a escrever o roteiro propriamente dito. Se você não fizer isso, provavelmente no meio do segundo ato, você começará a enrolar e escrever cenas absurdas apenas para ganhar umas páginas e chegar logo a resolução da história. Então, não pule etapas. Primeiro, isso irá lhe economizar tempo. Segundo, irá lhe garantir uma história mais interessante.

COMO EVITAR

Improvisão requer treino e muito conhecimento. Na escrita não é diferente, então você precisa estar preparado. Não sente e saia escrevendo. Primeiro, escreva um argumento que deixe clara a sua intenção com a história e a abordagem. Defina muito bem seus personagens, pois isso irá ajudar a dar força a sua história. Depois faça uma escaleta, definindo as cenas e o que acontece em cada uma delas. Só então, sente para roteirizar. Esse é o caminho mais eficaz. Se você já tem um roteiro escrito, faça o processo reverso no próximo tratamento. Transforme o roteiro em um argumento sem acrescentar elementos que já não estejam no roteiro. Depois faça uma escaleta com a sequência de todas as cenas. Observe se a história funciona, se todas as cenas tem uma função e se levam a história adiante.

Agradeço imensamente as roteiristas Alice Name Bomtempo, Mariana Tesch, Camila Coutelo, Nicole Zatz, Andréa Cohim, Renata Correa e Amanda Martinez pela colaboração com os itens deste post! E para conhecer os roteiros selecionados no Prêmio Cabíria, acesse aqui.

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